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Testemunhos de sobreviventes

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  • Celine B.'s story

Não acreditei que viveria, esperei ser assassinada e, por milagre, sobrevivi

Não acreditei que viveria, esperei ser  assassinada e, por milagre, sobrevivi. O que vivenciei neste sábado mudou minha vida e não sei como vou recuperar-me do sucedido. Estou quebrada e esmagada e não consigo aceitar tudo isto.


Sábado às 7:00 Estou dormindo em meu quarto que também servia como mamad (quarto de segurança). Ele estava perto de explodir pela quantidade de foguetes e explosões que escutava. Vivi em Nativ HaAsara durante toda minha vida, e já vivi alguns episódios relacionados a tensões de segurança. Mas, esta quantidade de foguetes nunca vi. Minha irmã teve um ataque de pânico e eu tentei manter a calma.

 

Sou forte e vou conseguir ultrapassar tudo isto, estou no mamad - um lugar seguro. 

Trouxe um calmante para minha irmã e acreditava que tudo ia ser resolvido.




Depois de alguns minutos, escutei tiros. Silêncio no quarto e apenas alguns olhares de incredulidade. Tiros? Porque tiros? Isso não poderia estar acontecendo. Disse a mim mesmo que não é lógico que haja terroristas, deve ter outra explicação. Acredito realmente que isso foi um sonho, não foram tiros. Até então sentia que eu estava sob controle, provavelmente matamos algum líder terrorista e esta é a resposta deles, como usualmente ocorre. 

Alguns minutos depois pego o celular da mamãe e entro no grupo de WhatsApp do moshav ( colônia agrícola) e leio a mensagem:

”Eles estão no meu jardim, tentaram abrir a porta. Me ajudem. Estão com bandanas verdes e armados”. 
Pronto, neste momento sinto que estou em um filme de terror.

Tive um ataque de pânico, o primeiro da minha vida. Perdi o controle de meu corpo, tremia toda, não conseguia respirar, e começo a entender que provavelmente vou morrer hoje


.E o que vai acontecer com tudo que planejei? O que vai acontecer com todas as pessoas que amo? E minha família? Como tudo vai acabar assim de repente? Somos impotentes, apenas esperávamos que os terroristas chegassem até nós, sem termos como se defender. Pegamos algumas facas sabendo que isso não iria ajudar. 

Os terroristas com veneno nos olhos e bem armados, e nós amedrontados com apenas facas. Esta é uma guerra com um final já conhecido. Esperamos no mamad por algumas horas, esperamos com paciência que nos matassem! Colocamos a geladeira atrás da porta, uma poltrona atrás da outra. Leio no celular da mamãe:” 

Escuto ruídos estranhos no nosso jardim. Escuto pessoas falando em árabe. 

Venham rápido, eles estão dentro de casa!”




Compreendo que isso estava ocorrendo com nossos vizinhos. Mais alguns minutos, e minha história neste mundo irá terminar.


Meus pais estavam em choque total, olhando o tempo todo no WhatsApp, como se isto fosse salvá-los. Minha irmã assumiu o comando e disse que é melhor morrer atingido por um foguete do que ser assassinado por um terrorista. Decidimos sair do mamad e nos esconder. Eu e Karine nos escondemos e ficamos deitadas no chão com as mão sobre as cabeças, ao mesmo tempo que muitos foguetes caiam sobre nossa região. Escutamos tiros vindos do bairro vizinho e compreendemos que está havendo uma chacina no nosso  moshav. 

Meu moshav está sangrando e eu não posso fazer nada.

O pior roteiro possível estava acontecendo aqui e agora. Lá pelas 17:30 recebemos uma mensagem sobre a evacuação do moshav, ao mesmo tempo que os terroristas ainda circulavam pelo moshav. Decidimos juntar alguns pertences rapidamente e viajar. Ao mesmo tempo que estava juntando as coisas, descobri que Neta, meu namorado, foi assassinado! Meu Neta que tanto amo. Estava em seu quarto com uma amiga quando jogaram uma granada dentro e a casa pegou fogo. Neta saiu para fora e atiraram nele. Em meus piores pesadelos, nunca tinha imaginado que tal coisa pudesse acontecer. Pensei:”O que vou fazer agora e ainda aceitar a morte de Neta”? Chorei pouco e fiquei brava comigo mesma por não perder o controle. 


Tentei entender o que acontecia e fui em direção ao carro. No estacionamento escuto uma rajada de tiros a poucos metros de mim. Digo a meus pais em pânico:” Por favor, vamos voltar para casa pois os tiros estão ao nosso redor”. Meu pai pediu para eu entrar  no carro e sair o mais rápido possível. Ele entendeu que iríamos morrer de qualquer forma, e que o melhor seria tentarmos fugir. Os dois minutos desta viagem duraram uma eternidade.



Rezei por minha alma sabendo que os terroristas estavam à solta. Depois soube que passei por casas que estavam cheias de corpos. 

E os tiros que escutei foram os tiros que mataram meus vizinhos. Eu e Karine vimos muitos carros abandonados no meio da estrada principal - com as portas e janelas abertas, e ninguém dentro. Vimos queimadas e ninguém tentando apagá-las, pois não era a prioridade no momento. 


Paramos no posto de gasolina e vi foguetes nos céus, sobre mim. Corri desesperadamente para o bunker do posto e assim começou meu quarto ataque de pânico. Caí no chão, uma mulher desconhecida abraçou-me e implorei-lhe:” Por favor me abrace, me abrace. Mataram meu namorado. Por favor”. Ela começou a chorar e então perdi o controle. 


Chegamos em Netanya. A família de Shir, uma amiga minha, nos acolhe. Não paro de chorar, estou completamente apática. Não tenho forças mentais para responder as 150 mensagens que me enviaram. Não compreendo ainda a dimensão do que ocorreu. 


Levantei-me no dia seguinte, e fiquei sabendo que provavelmente um outro amigo meu foi assassinado. Um amigo,  como irmão. Meu amigo de confidências, a pessoa mais especial que conheci. Até agora fico esperando que alguém venha e me diga que isto é um sonho, e não é a realidade. Espero escutar que ele está vivo, apesar de saber que provavelmente não é verdade. Estou quebrada e esmagada, e não estou pronta mentalmente para prosseguir. Comecei um tratamento psicológico, não sei o que vai acontecer daqui em diante. Minha vida se divide entre antes e depois de 7/10/2023



Celine B.



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