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Testemunhos de sobreviventes

Leia a seguir

Entramos no carro e viajamos em direção ao desconhecido rezando para estarmos na direção certa

  • Yoed K.'s story

Preparei-me para o pior de tudo. E, de alguma forma, aconteceu um enorme milagre!!!

A sirene de alarme que soou de manhã cedo no kibutz Beeri na festa de Simchat Torá , colocou  a todos  em um rápido confinamento e em prontidão sobre a possibilidade da entrada de terroristas. Ninguém imaginou de forma alguma o que estava para acontecer.Tranquei-me na   minha unidade de moradia (uma pequena sala e um quarto protegido-mamad), o arrumei em meio minuto… para que pareça que não havia ninguém.Escondi embaixo da cama esperando, como todos, o que iria acontecer. 


Em segundos, potentes tiros foram aumentando de intensidade  em todo o kibutz, bem como gritos de “Allah é grande”. Compreendi que não era uma pequena unidade de terroristas que tinham invadido o kibutz, mas, multidões que passam pelos lugares habitados para matar! Conquistam o kibutz!

 

Adicionalmente um pesado odor de queimado é sentido em nossa volta, eles estão queimando tudo e colocando fogo nas casas. 

O temor e o medo da entrada de terroristas em meu quarto aumenta, a porta de entrada é apenas uma simples porta de um depósito. Com apenas um chute podem entrar. Meus pais escreveram-me , me animando. Pelo jeito, não é possível fazer mais nada. As perguntas surgem, onde estão as forças de nosso exército que deveriam vir e nos salvar?


Às 10:30 aproximadamente, os terroristas chegaram e tentaram entrar gritando e atirando. O medo paralisa-me  principalmente porque não tenho nenhuma arma para me proteger ou guerrear.

Cada segundo é uma eternidade!!! Não me movi um milímetro, era a única coisa que podia fazer para me proteger.

Preparei-me  para o pior de tudo. E, de alguma forma, aconteceu um grande milagre!!! Não tenho uma explicação lógica… Depois de alguns prolongados minutos, os desgraçados “desistiram” e não entraram. Não sei, talvez meu avô David z”l  (de abençoada memória) que faleceu há um ano… me protegeu.  ( Meu avô David e seu avô Shlomo Tvi Kahat z”l  de quem herdei meu nome Yoad-Shlomo).

Durante todo este tempo que fiquei escondido, fiquei repassando  as imagens de meu avô e rezando.

Meu pai enviou-me um vídeo da brachá (reza) “O anjo salvador” nas vozes das crianças na sinagoga em tempo real. Esta era a manhã da festa de Simchat Torá. A verdade é que, de verdade, não tenho outra explicação para este milagre.


Passado um tempo, alguém muito próximo de minha família animou-me  dizendo que nosso exército encontra-se a caminho e que o salvamento chegaria logo. Ele não sabia o que ocorria e tentou também me acalmar.


Novamente o Hamas voltou junto com os tiros no quarto. Desta vez vindos da direção da janela, rajadas de tiros e gritos de conquista.

Era um puro horror e medo!!! Foi necessário muita força para poder sobreviver neste horror.

Quem poderia acreditar que iríamos  chegar a esta  situação absurda?! Nem aos menos possuo  uma arma.Permanecer deitado sem me  mexer um milímetro durante prolongadas horas deixava-me  louco, e o corpo sentia dores terríveis.Desistiram e continuaram.


Por volta das 6 horas da tarde o contato foi interrompido, a internet “caiu”, desconexão total. Enviei minha localização esperando que consigam fazer o reconhecimento. 

Não tinha dúvidas que a situação estava perdida de todos os lados…

Estou preocupado com meus estudantes, com suas famílias, com os membros do kibutz e o que aconteceu com eles. Idosos e adultos, jovens e bebês. Meu coração se preocupa, dói-me que não tenha como ajudar.


Ao redor das 10 da noite comecei a escutar novamente ruídos  aproximando-se do meu quarto. Depois de alguns minutos de preocupação da possibilidade dos terroristas estarem se fingindo de soldados,  compreendo que são nossos soldados da unidade “Diamante”. Ao abrirem a porta, apontam-me  uma arma, também certificando-se que não sou um terrorista disfarçado. Viemos salvá-lo Yoad.


Senti que todas minhas forças tinham se exaurido.

Os soldados retiraram-me e pediram que cuidasse de uma senhora que estava em outra casa. Teve sorte que não a feriram. Claro que cuidei dela, e naturalmente sem estar armado. Ela concordou, não entendendo o que estava acontecendo. Provavelmente tinha problemas mentais, o que talvez a tivesse ajudado..


Depois de duas horas intensas de tiros, explosões e batalhas sangrentas por todo o kibutz, vieram nos agrupar e nos transferir novamente. 

Uma força da unidade Diamante e da 504  retiraram-nos junto com outras poucas famílias desse holocausto. Não há outra palavra para descrever os horrores que aconteceram com minha segunda casa - o kibutz. O querido kibutz Beeri.


Infelizmente, creio que 5 estudantes meus foram mortos e outros 9 estão desaparecidos.

Não, não se trata de números. Os números não são importantes, e sim cada um dos que foram mortos e massacrados, cada um um mundo em si.

A destruição que ocorreu, e o pogrom que fizeram,  não é menor do que aquele que nos atingiu há 80 anos. Com uma diferença importante! Naquela época estávamos na diáspora sem uma pátria, sem exército. Agora esta tragédia aconteceu, aqui no Estado de Israel.


O kibutz Beeri foi eliminado, e teve metade de suas casas queimada e quase todas as famílias perderam um ente querido.


Chega… não tenho mais palavras.

“ E, talvez.. Isso nunca aconteceu”


Amo todos vocês


Yoed K.




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